Standard & Poor's dá voto de confiança na capacidade do
governo de continuar mantendo contas em ordem
Novas projeções do Banco Central indicam que atividade
econômica se contraiu no terceiro trimestre
Em pleno agravamento da crise nos países
desenvolvidos, com reflexos cada vez mais próximos no cenário doméstico, a
política econômica brasileira ganhou um voto de confiança influente no mercado
internacional.
A agência Standard & Poor's, que classifica governos e empresas conforme a
solidez de suas contas, informou ontem que elevou a nota do Brasil devido,
principalmente, ao ajuste fiscal promovido pela administração Dilma Rousseff.
Poucas horas antes, o Banco Central havia divulgado dados que reforçam a
percepção de que a produção e a renda do país encolheram no terceiro trimestre
deste ano, pela primeira vez desde 2009.
Para a Standard & Poor's, no entanto, o Brasil terá condições de atenuar o
impacto da derrocada econômica internacional e manter sua capacidade de
pagamento.
"Esperamos que o governo busque políticas monetária e fiscal cautelosas
que, combinadas com o resiliente crescimento econômico do país, moderem o
impacto de choques externos potenciais e sustentar boas perspectivas para o
crescimento de longo prazo", diz seu comunicado.
A classificação da dívida brasileira foi elevada de BBB- para BBB -na escala da
agência, trata-se de dizer aos credores que emprestar dinheiro ao país está a
poucos passos de se tornar um investimento de boa qualidade, carimbado com a
letra "A".
Foi a primeira promoção desde que, há três anos, aplicar em títulos da dívida
do Brasil deixou de ser considerado especulação e passou a ser tratado como
investimento pelas principais agências de classificação de risco.
A Standard & Poor's prevê crescimento modesto neste e no próximo ano, mas
aposta na permanência do aperto fiscal. Em 2009, a crise derrubou a arrecadação
e fez o governo gastar para estimular o consumo e o investimento.
Pelas contas do BC, a atividade econômica diminuiu 0,32% entre julho e
setembro, na comparação com os três meses anteriores. A instituição, que no
início do ano buscava conter a inflação, agora corre para evitar recessão.
Não está no horizonte, porém, uma deterioração das contas públicas comparável à
dos EUA e de europeus, onde a necessidade de reerguer a economia provocou
disparada do endividamento.
Para o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, a elevação da nota do
Brasil num momento em que as notas dos EUA e de países europeus estão sendo
rebaixadas reforça a diferença entre desenvolvidos e emergentes.
"Isso fortalece a visão de um mundo mais assimétrico", disse Langoni.
"Os emergentes se destacam não só em termos de maior crescimento, mas por
políticas econômicas mais consistentes."
Segundo o economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, a nova
nota é um reconhecimento de que o país tem hoje contas públicas organizadas e
está numa situação fiscal bem melhor do que outros países.
"O Brasil tem impostos elevados e um gasto de má qualidade, e isso faz com
que o país cresça pouco", disse. "Mas as agências de risco estão mais
preocupadas com a capacidade do Brasil de pagar a sua dívida e desse ponto de
vista o país está bem".
Fonte:
Folha de São Paulo
Publicado
em 18/11/2011