sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brasil Vermelho – Agência de Risco Sobe Nota do Brasil em Meio à Crise Externa


Standard & Poor's dá voto de confiança na capacidade do governo de continuar mantendo contas em ordem

Novas projeções do Banco Central indicam que atividade econômica se contraiu no terceiro trimestre

Em pleno agravamento da crise nos países desenvolvidos, com reflexos cada vez mais próximos no cenário doméstico, a política econômica brasileira ganhou um voto de confiança influente no mercado internacional.
A agência Standard & Poor's, que classifica governos e empresas conforme a solidez de suas contas, informou ontem que elevou a nota do Brasil devido, principalmente, ao ajuste fiscal promovido pela administração Dilma Rousseff.
Poucas horas antes, o Banco Central havia divulgado dados que reforçam a percepção de que a produção e a renda do país encolheram no terceiro trimestre deste ano, pela primeira vez desde 2009.
Para a Standard & Poor's, no entanto, o Brasil terá condições de atenuar o impacto da derrocada econômica internacional e manter sua capacidade de pagamento.
"Esperamos que o governo busque políticas monetária e fiscal cautelosas que, combinadas com o resiliente crescimento econômico do país, moderem o impacto de choques externos potenciais e sustentar boas perspectivas para o crescimento de longo prazo", diz seu comunicado.
A classificação da dívida brasileira foi elevada de BBB- para BBB -na escala da agência, trata-se de dizer aos credores que emprestar dinheiro ao país está a poucos passos de se tornar um investimento de boa qualidade, carimbado com a letra "A".
Foi a primeira promoção desde que, há três anos, aplicar em títulos da dívida do Brasil deixou de ser considerado especulação e passou a ser tratado como investimento pelas principais agências de classificação de risco.
A Standard & Poor's prevê crescimento modesto neste e no próximo ano, mas aposta na permanência do aperto fiscal. Em 2009, a crise derrubou a arrecadação e fez o governo gastar para estimular o consumo e o investimento.
Pelas contas do BC, a atividade econômica diminuiu 0,32% entre julho e setembro, na comparação com os três meses anteriores. A instituição, que no início do ano buscava conter a inflação, agora corre para evitar recessão.
Não está no horizonte, porém, uma deterioração das contas públicas comparável à dos EUA e de europeus, onde a necessidade de reerguer a economia provocou disparada do endividamento.
Para o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, a elevação da nota do Brasil num momento em que as notas dos EUA e de países europeus estão sendo rebaixadas reforça a diferença entre desenvolvidos e emergentes.
"Isso fortalece a visão de um mundo mais assimétrico", disse Langoni. "Os emergentes se destacam não só em termos de maior crescimento, mas por políticas econômicas mais consistentes."
Segundo o economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, a nova nota é um reconhecimento de que o país tem hoje contas públicas organizadas e está numa situação fiscal bem melhor do que outros países.
"O Brasil tem impostos elevados e um gasto de má qualidade, e isso faz com que o país cresça pouco", disse. "Mas as agências de risco estão mais preocupadas com a capacidade do Brasil de pagar a sua dívida e desse ponto de vista o país está bem".


Fonte: Folha de São Paulo
Publicado em 18/11/2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mundo Vermelho - Cortes Não Funcionam, Diz Dilma à Europa


Em visita à Bélgica, presidente brasileira critica ajuste europeu e afirma que situação requer aumentar investimentos 

Dilma lembrou crise da dívida na América Latina na década de 80; para premiê belga, não existe 'pacote mágico' 

A presidente Dilma Rousseff ensinou ontem aos europeus, com a devida elegância, que está errada a estratégia adotada por quase todos os países europeus para enfrentar a crise.
A presidente lembrou a crise da dívida latino-americana, nos anos 80/90, para dizer claramente: "Nossa experiência demonstra que ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundam o processo de estagnação e de desemprego". Completou: "Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo e o nível de investimento". A Europa está fazendo exatamente o oposto.
As declarações foram feitas na escadaria de mármore do tricentenário Palácio Egmont, sede do Ministério de Relações Exteriores belga e que serve também para receber dignitários estrangeiros.
À noite, a presidente retomou o tema, agora diante de Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, a máxima instituição da União Europeia, e de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo.
O premiê belga em funções, Yves Leterme, endossou a observação de Dilma, em breve conversa com os jornalistas brasileiros depois de despedir-se da presidente: negou que os cortes compusessem um "pacote mágico" contra a crise e pregou um "equilíbrio entre o saneamento das finanças públicas e a necessidade de crescimento".
Leterme goza de uma posição excepcional para criticar o que seus colegas europeus estão fazendo: a Bélgica não conseguiu formar um governo efetivo desde a eleição de junho do ano passado. Logo, ele é apenas um interino, impossibilitado de adotar medidas mais relevantes. Medidas como os duros pacotes de ajuste de seus vizinhos.
Por isso, como assinalou Dilma, "mesmo com a crise, a situação da Bélgica é bastante satisfatória". De fato, mesmo sem governo há quase ano e meio (recorde mundial), a Bélgica cresceu mais que a locomotiva alemã. Dilma já cravou "a crise que afeta os países desenvolvidos" como o principal tema da cúpula do G20, o clubão das maiores economias do planeta, marcada para novembro em Cannes, França.
Se for assim, é possível antecipar desde já que Brasil e Estados Unidos alinhar-se-ão no lado dos que pregam a necessidade de priorizar o crescimento, deixando o ajuste fiscal para o médio ou longo prazo. Os europeus que já tomaram a via oposta estarão obrigados a defendê-la, a menos que vozes como a de Leterme ganhem força.
Como a Folha antecipou ontem, Dilma tocou ainda em dois pontos de sua agenda: 
1 - A Rio+20, a conferência que fará o balanço da Eco-1992 -e eventualmente determinará avanços no combate ao aquecimento global. Aliás, a presidente saudou os belíssimos dias que a receberam em Bruxelas, alusão ao fato de que, mesmo já entrado o outono, as temperaturas bateram o recorde de todos os tempos para esta época, beirando os 30°C.
2 - O empenho em emplacar o programa "Ciência sem Fronteiras", que pretende colocar de 75 mil a 100 mil estudantes brasileiros em universidades europeias, de preferência em engenharia, matemática, física e química.

Fonte: Folha de São Paulo
Publicado em 04/10/2011

Mundo Vermelho – Apresentação

Nesta seção serão postadas notícias internacionais sob a ótica vermelha.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Brasil Vermelho – Há Duas Posições, Pelo Menos

Ha duas posições, grosso modo, que disputam a política monetária. Ambas se propõem a combater a inflação, reconhecida como o maior mal para uma economia. Uma representa um projeto de desenvolvimento assentado no crescimento do mercado interno e na distribuição de renda, que conta com o apoio tanto da CUT quanto da Fiesp. A outra é um projeto de maximização de lucros sustentado pelos bancos e fundos de investimento, e também pelas corporações transnacionais.
A política dominante é combater a inflação com o aumento da taxa de juros. A proposta é frear a demanda, dificultar o consumo, gerar desemprego. É uma desaceleração da economia, uma pressão sobre os salários. Esta é a dimensão estratégica. Há também uma repercussão imediata, que é o aumento dos lucros para os detentores dos títulos da dívida pública. O Brasil é o campeão mundial na taxa de juros e o paraíso das instituições financeiras, principalmente de seu setor especulativo. Quem fica mais perto é a Turquia, com uma taxa que é um terço da nossa.
Os setores, por assim dizer, desenvolvimentistas, preconizam o contrário. Eles querem reduzir a taxa de juros. Entendem que é preciso manter o crescimento econômico, preservar e fortalecer a indústria nacional, com ênfase especial no apoio às médias e pequenas empresas. Propõem a geração de empregos e o aumento real dos salários como estratégia para dinamizar o mercado interno e promover o círculo virtuoso de uma riqueza que circule internamente no país.
O lugar onde se decide a política monetária é o Conselho de Política Monetária, o Copom. Composto por sete pessoas, em sua última reunião, e presidido pelo presidente do Banco Central. Entre seus membros estão funcionários de carreira do Banco Central e do Banco do Brasil, consultor do Banco Mundial, representante do setor financeiro. Esses sete homens decidem sobre os rumos da economia brasileira. A taxa de juros, a Selic, é definida aqui. Essa taxa remunera grande parte da dívida pública, que hoje supera os R$ 2,5 trilhões.
A dívida pública interna mobiliária (títulos), grande parte do total, está em mãos do setor bancário e financeiro privado. Só em 2010 – somando juros, amortizações e refinanciamento da dívida – o povo pagou R$ 635 bilhões a essas instituições privadas, detentoras dos títulos. São cerca de 20 mil famílias que, na condição de investidores, amealham a maior parte desse dinheiro.
Do total do Orçamento Geral da União, esses R$ 635 bilhões representam 45%. Depois de paga essa fabulosa quantia, aí se distribui o restante pelas políticas públicas. E o Saneamento não recebe mais que 0,04%; Cultura, 0,06%.
Isso tem sido assim há muito tempo. E se deve à importância do setor financeiro privado e à hegemonia do seu pensamento nas instâncias de decisão da política monetária. A receita para combater a inflação é aumentar seus lucros. O interesse público vem em segundo lugar.
Basta um banco tomar empréstimos nos EUA a juros quase zero e aplicar aqui, em um investimento seguro, títulos da dívida pública brasileira, e receberá uma remuneração que não terá em nenhuma outra parte do mundo. O Brasil é a melhor opção. Vale a pena comprar títulos, abrir uma filial aqui, ou associar-se a uma empresa brasileira.
A ideologia neoliberal, que respalda os interesses e políticas dominantes, é defensora de que não deve haver regras, não deve haver limites para a ação das grandes corporações financeiras e das corporações transnacionais, e essas proposições têm sua força. Elas incidem sobre as instâncias governamentais de decisão e abrem o nosso mercado para uma competição assimétrica entre as empresas nacionais e estas grandes corporações transnacionais. A indústria brasileira e o comércio sofrem, particularmente neste momento em que esses mesmos donos da bola se somam a uma onda internacional e impõem uma sobrevalorização do real, ou seja, uma desvalorização do dólar, que favorece a entrada de produtos estrangeiros a preços mais que competitivos. Muitos economistas recusam a ideia da inexorabilidade dessa política. Deveria haver uma ação mais enfática do governo, dizem eles, para evitar a sobrevalorização do real. Há instrumentos e condições para isso.
Toda a discussão que se passa no Copom é publicada. Travestida desta linguagem complexa que é o economês. São sinais para o mercado, o setor privado. É uma linguagem para poucos.
Se dissessem claramente que 45% do que você pagou de impostos, pelas decisões tomadas neste órgão, foi para o setor financeiro privado, e que em abril passado os títulos da dívida mobiliária foram comprados em 30,3% pelas instituições financeiras, em 24,6% por fundos de investimento, o que você acharia disso tudo?


Artigo de Silvio Caccia Bava
Fonte: Le Monde Diplomatique

Brasil Vermelho – Apresentação

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